A Internet e a necessidade de uma nova consciência cultural
*Jaqueline Santiago Portugal
RESUMO
Apresenta-se neste artigo uma abordagem referente à utilização das novas tecnologias, particularmente, da Internet e da sua importância para a interação social e exercício da cidadania. Com os avanços tecnológicos observa-se a geração de um grande fluxo de informação que requer uma nova maneira de as administrar. Assim, Internet como meio de comunicação trás também como proposta promover o conhecimento para além dos muros da sala de aula e, sendo assim, demanda uma mudança de atitudes de todo o sistema de ensino e também a necessidade de incorporar a nova cultura que está condizente com o contexto tecnológico atual, a cibercultura.
Palavras-chaves: Internet, inclusão digital, postura do professor, cibercultura.
1. Internet e a inclusão digital
A Internet é um dos suportes de comunicação mais usados hoje em dia. Quando a Internet surgiu nem se imaginava que ela poderia permitir tanta praticidade, tanto é que, muitas vezes, as pessoas nem precisam sair de suas casas para pagar contas, entre outras coisas. Contudo, no Brasil, nem todos têm acesso a Internet ou têm disponível em casa um computador com Internet banda larga, e sim Internet discada que é muito mais dispendioso.
Para minimizar este problema, o governo tem criado algumas políticas públicas no intuito de promover a inclusão digital, como é o caso do Proinfo, Programa Nacional de informática na Educação. Este programa visa à introdução das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação na escola pública para que possa servir de apoio ao processo de ensino-aprendizagem. Contudo, para surtir efeito, é necessário que os professores saibam como manejar o computador e criar atividades pedagógicas associadas à informática. Por isso, o programa visa também capacitar os professores no sentido de possibilitar aos mesmos condições necessárias ao desempenho de atividades com a informática em sala de aula. Um outro programa é o UCA (Um computador por Aluno) proposto pelo governo Lula, mas que ainda está em fase de experiência e só algumas cidades foram contempladas. Apesar dos programas e propostas de governo, vale analisar o que vem a ser realmente inclusão digital e se ater ao termo “inclusão”. A idéia de inclusão deve ser mais abrangente, ou melhor, deve ser funcional, deve possibilitar que o indivíduo se desenvolva e seja capaz de se auto gerir, deve ser motivadora para que o cidadão possa participar ativamente na sociedade, ter uma interação social e melhor consciência de mundo.
Sendo assim, os programas e as propostas não devem só fazer parte do imaginário ou estarem inscritas no papel, mas devem estar associadas a um processo de conscientização, deve se perceber estas iniciativas como atitudes fundamentais para o desenvolvimento do país e fazê-las acontecer de fato.
No âmbito da educação, a prática consciente de ações que traduzam o significado do termo inclusão, dentro do que propõe o avanço das tecnologias é muito relevante. E esta prática reafirma idéias que já foram pensadas e que cabe ao sistema de educação considerar no sentido de ter um melhor nível de rendimento na aprendizagem e conseqüentemente favorecer o desenvolvimento da sociedade. Neste sentido, cabe ficarmos atentos às políticas públicas e analisar se elas realmente contemplam as necessidades das classes menos favorecidas no intuito de evitar o que caracteriza a nossa educação:
“A de vir enfatizando cada vez mais em nós posições ingênuas, que nos deixam sempre na periferia de tudo o que tratamos. Pouco ou quase nada, que nos leve a posições mais indagadoras, mais inquietas, mais criadoras. Tudo ou quase tudo nos levando desgraçadamente, pelo contrário à passividade, ao “conhecimento” memorizado apenas, que, exigindo de nós elaboração ou reelaboração, nos deixa em posição de inautêntica sabedoria.” (Freire, 1981, 95-96).
Deste modo, a Internet pode ser uma importante aliada para o processo de aprendizagem e aquisição de conhecimento do educando, mas que requer uma mudança de atitude no sistema de educação e vontade política.
2. A postura do professor e a necessidade da difusão de uma nova cultura
Atualmente a utilização da Internet está sendo um recurso muito comum no que se refere à pesquisa escolar. Porém, observa-se um certo preconceito com a utilização da mesma, o que é gerado pela quantidade de trabalhos que são copiados da Internet. Isso é verdade, mas de quem é a culpa?
Antigamente as pesquisas tinham como fonte os livros e outros impressos, estes recursos não foram descartados. Esta prática funcionava, e ainda se vê muito, da seguinte maneira: o professor determina o assunto a ser pesquisado, o aluno pesquisa no livro, copia, entrega o trabalho ao professor, ele corrige e pronto. Com a chegada da Internet as críticas a respeito da forma como os alunos pesquisam também se tornaram comuns e se igualam à forma anterior. A diferença é a fonte, agora os alunos copiam e colam. O que realmente está faltando? Será que não existe a necessidade dos professores reverem as suas posturas em sala de aula e dos órgãos governamentais investirem em educação? E o que está errado, é o ato de copiar? É claro que o professor sabe que é uma cópia e o aluno também. Porém, na relação professor/aluno, o professor é o adulto da relação, é neste momento que ele deve agir. Por exemplo, será muito mais válido formar grupos de discussão e fomentar questões a respeito do assunto do que simplesmente receber o trabalho e dar uma nota, mas desta forma é mais cômodo. Este tipo de tomada de decisão favorece uma aprendizagem muito mais significativa e evita o ensino e o estudo de faz de conta. Aliás, é este tipo de educação superficial que reflete a situação atual do país. Assim, se não houver um amadurecimento no modo de agir e uma valorização dos estudos, das descobertas que subsidiam a educação, a nossa sociedade continuará com estas permanências de baixo rendimento escolar.
A Internet é um meio de comunicação e interação favorável ao processo de educação no momento em que “abre” as portas e janelas da escola, ou seja, permite que o conhecimento e a aprendizagem vão além da sala de aula. Além disso, proporciona uma diversidade de espaços que podem e devem ser explorados. É possível criar e participar de vários ambientes como Chat, grupos de estudos, MSN, etc. Por isso, com o surgimento da informática e com o grande uso da Internet, faz-se necessário que o professor tenha uma postura de mediador, que ele simplesmente não passe a pesquisa, mas que possa criar questões, ser um formulador de problemas, um construtor de redes de conhecimentos, dialogando com os alunos a fim criar ambientes de discussão.
Infelizmente, a realidade que se percebe é justamente a falta de preparo dos professores para utilizar a tecnologia na dinâmica da prática pedagógica. A maioria tem medo de mexer no computador, muitas vezes não sabem nem ligar. Como os alunos estão mais à frente neste processo, verifica-se uma troca de papéis, ou seja, o aluno ensina ao professor, o que não é muito bem aceito por muitos. Os programas de incentivo à formação de professores no âmbito da informática, como o Proinfo, propõe contribuir com o professor neste sentido. Mas, para um professor que trabalha 40 ou 60 horas semanais estes cursos tornam-se inviáveis, forçando-o a buscar atualização por conta própria.
“Fica a dúvida, portanto de como alguns cursos rápidos, como previsto nos atuais Programas governamentais, como é o caso, por exemplo, do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), podem oferecer condições aos professores de participar do mundo contemporâneo como autores do processo, ou seja, como produtores de conhecimento, proponentes de novas práticas, com poder de decisão, com sentido ético, autonomia e espírito crítico”.(Bonilla, 2002, p. 42).
Pois bem, o problema é muito mais complexo. O desenvolvimento desta prática pedagógica requer uma mudança de postura, uma re-significação do entendimento do que vem a ser o processo de aprendizagem e conseqüentemente do que é educação, não só do professor, mas de todo o sistema de ensino. Na verdade é necessário perceber a educação como um investimento e não como uma despesa, pois é óbvio que investir em educação é investir no desenvolvimento do país.
E considerando a rapidez e o grande fluxo de informações que são constantemente gerados nestes ambientes, é viável a utilização de suportes de comunicação que atendam as estas necessidades. Sendo assim, a Internet se encaixa perfeitamente a estas características e, além disso, favorece o desenvolvimento da inteligência e da capacidade de memória, portanto deve ser explorada. Neste sentido, é imprescindível que o sistema de ensino acompanhe este processo de desenvolvimento para que o aprendizado dos alunos possa ser consistente. Ora, não tem sentido estar fora destes ambientes de informação e conhecimento no século que estamos, nem disseminar o discurso de que a utilização da Internet como fonte de pesquisa é inviável, pois os alunos copiam e colam. Deve-se, no entanto, motivar a difusão desta nova cultura que está inserida no contexto tecnológico e associá-la a uma mudança de postura, se desapegar do entendimento de que o professor é o detentor do saber.
Fala-se muito que as pessoas não lêem, não escrevem, porém nunca se escreveu tanto como hoje em dia se escreve nos orkuts, e-mails, MSN’s. Caso o problema seja a qualidade do que se lê e do que se escreve, então existe a necessidade de uma pessoa que possa mediar esta prática, orientar, incentivar o aluno de uma maneira que possa promover o seu aprendizado e o seu desenvolvimento. O professor pode exercer este papel, mas deve ser dado a ele o subsídio necessário para que possa trabalhar sentindo-se parte do processo e não algo isolado do contexto.
Segundo Lévy (1999: 157-158), o professor deve estar disposto a orientar e animar a inteligência dos seus alunos para a promoção de uma nova relação com o saber. Deve criar uma cultura de participação coletiva para que os alunos possam interagir, manipular a Internet para conhecer e transformar, fazendo com que os mesmos possam exercer o seu papel de cidadão. Faz-se necessário, também, motivá-los a participar das comunidades de aprendizagens, utilizando o ciberespaço, local onde ocorre toda a troca de informação e onde se estabelecem as relações de comunicação. O ponto chave para o desenvolvimento desta cultura é a prática do sentido de cooperação e colaboração. Através destas atitudes é possível que o professor possa interagir melhor com a turma e criar uma consciência do que vem a ser o processo de aprendizagem e conseqüentemente fazer-se inclusos no contexto das novas tecnologias e da cibercultura.
Sempre que surge algo novo na sociedade, provocam-se mudanças no comportamento das pessoas e na relação entre elas, foi assim com o rádio, com o telefone, com a televisão e agora com a informática, particularmente com o surgimento da Internet. Então, assim como as pessoas exercem influência sobre as coisas, a recíproca é verdadeira e a Internet desencadeia como proposta uma mudança no processo de educação, mas não só isso, favorece o desenvolvimento da criticidade dos sujeitos e da autonomia.
Conclusão
Apreciando esta era de desenvolvimento tecnológico, o modo de vida das pessoas, evolução de conhecimento e conseqüentemente, os grandes fluxos de informações que são gerados, é indubitável a importância da Internet no que tange a sua capacidade de fomentar a interação e comunicação em rede e, portanto, adequada aos novos hábitos e costumes dos sujeitos. Ademais, apesar da dificuldade de acesso de muitos, entende-se que o processo de inclusão dos mesmos deve acontecer de uma maneira que possa permitir que estes exerçam o seu papel de cidadão, tendo a liberdade de construir, discutir e sugerir idéias.
Considerando neste contexto o desenvolvimento tecnológico, cabe ao professor atentar para esta nova cultura de aprendizagem, para esta nova forma de construir o conhecimento, enfrentar os medos e aprender a “navegar” na Internet. Pode-se dizer que navegar é preciso. Desse modo, o professor pode ser comparado ao comandante de uma embarcação (sala de aula), ele precisa saber navegar, saber como se maneja o barco, saber as direções e os caminhos de onde se quer chegar, para que possa orientar e conduzir os tripulantes (alunos) e dessa forma, evitar que os mesmos, incluindo, o próprio professor, naveguem e fiquem à deriva, estacionados no meio do mar.
REFERÊNCIAS:
BONILLA, Maria Helena. Inclusão digital e formação de professores. Revista de educação. Salvador, Vol. XI. nº 1, Departamento de educação de F.A.C.U.L, 2002.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.95-96, 1981.
LÈVY, Pierre. A nova relação com o saber. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, p.157-158, 1999.
NOTAS:
*Aluna do 6º Semestre do curso de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia